Acho curioso ver as pessoas que vão assistir ao filme Tropa de Elite 2 saírem comentando que ele “retrata a realidade nua e crua” como se tivessem amplo conhecimento de causa sobre segurança pública (fora o lugar-comum do “nua e crua”…)
O filme, de fato, apresenta recursos realistas impressionantes tais como as janelas e a vista do prédio da Secretaria de Segurança Pública do Rio que fica na Av. Pres. Vargas, além de apresentar um discurso extremamente convincente e bastante coerente. Esses espectadores até podem ter razão, e TE2 é, de fato, um retrato da realidade. Entretanto, é importante não perdermos o parâmetro de que ele é apenas um discurso. Ponto. O conhecimento acerca da realidade precisa de muito mais recursos e informações do que um simples filme de um único diretor. Por melhor e mais realista que seja, terá sempre apenas um ponto de vista acerca de um assunto tão complexo quanto esse.
Interessante é percebermos que o próprio diretor se dá conta disso, criando um antagonista ideológico que inexistia no primeiro filme. E acredito que é justamente do conflito Cel. Nascimento x Fraga que surgem as melhores questões do filme. O discurso que, no primeiro filme é completamente monológico, no segundo abre as portas para a dialética. Foi uma saída.
Não é meu interesse aqui criticar o filme, nem dizer se ele está certo ou não, mas defender a ideia de que Tropa de Elite 2 não é o único nem o melhor raio x da criminalidade do Rio de Janeiro. Apenas um excelente filme que quer levantar questões, não fechá-las. Nós, que a cada vez mais temos o (péssimo) hábito de ter tudo o que os meios de comunicação nos apresentam como verdadeiro, precisamos colocar as coisas nos seus devidos lugares.
P.S. Faltam apenas 400 mil espectadores para que TE2 ultrapasse a bilheteria de Avatar e seja a maior do ano. Sabendo que no último final de semana ele teve público de 453 mil e vem um feriadão por aí, é muito provável que ele alcance essa marca. Torço muito por isso.