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Archive for novembro \10\-03:00 2010

Acho curioso ver as pessoas que vão assistir ao filme Tropa de Elite 2 saírem comentando que ele “retrata a realidade nua e crua” como se tivessem amplo conhecimento de causa sobre segurança pública (fora o lugar-comum do “nua e crua”…)

O filme, de fato, apresenta recursos realistas impressionantes tais como as janelas e a vista do prédio da Secretaria de Segurança Pública do Rio que fica na Av. Pres. Vargas, além de apresentar um discurso extremamente convincente e bastante coerente. Esses espectadores até podem ter razão, e TE2 é, de fato, um retrato da realidade. Entretanto, é importante não perdermos o parâmetro de que ele é apenas um discurso. Ponto. O conhecimento acerca da realidade precisa de muito mais recursos e informações do que um simples filme de um único diretor. Por melhor e mais realista que seja, terá sempre apenas um ponto de vista acerca de um assunto tão complexo quanto esse.

Interessante é percebermos que o próprio diretor se dá conta disso, criando um antagonista ideológico que inexistia no primeiro filme. E acredito que é justamente do conflito Cel. Nascimento x Fraga que surgem as melhores questões do filme. O discurso que, no primeiro filme é completamente monológico, no segundo abre as portas para a dialética. Foi uma saída.

Não é meu interesse aqui criticar o filme, nem dizer se ele está certo ou não, mas defender a ideia de que Tropa de Elite 2 não é o único nem o melhor raio x da criminalidade do Rio de Janeiro. Apenas um excelente filme que quer levantar questões, não fechá-las. Nós, que a cada vez mais temos o (péssimo) hábito de ter tudo o que os meios de comunicação nos apresentam como verdadeiro, precisamos colocar as coisas nos seus devidos lugares.

P.S. Faltam apenas 400 mil espectadores para que TE2 ultrapasse a bilheteria de Avatar e seja a maior do ano. Sabendo que no último final de semana ele teve público de 453 mil e vem um feriadão por aí, é muito provável que ele alcance essa marca. Torço muito por isso.

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Uma das coisas que mais me incomoda num debate é quando uma das partes – que normalmente é a que está em desvantagem – solta a seguinte pérola: “Mas não podemos generalizar…”. Incomoda porque não é verdade. Podemos. Podemos e fazemos. Podemos, fazemos o tempo inteiro e é inclusive por causa dela que podemos aprender certas coisas sem precisar que tenhamos contato direto com todas as possibilidades existentes debaixo do sol.
Se alguém pedir para você conjugar verbo tergiversar – tão propalado atualmente em tempos de debates políticos – provavelmente você vai enrolar a sua língua na pronúncia, mas irá acertar. Mas como, se você talvez nunca tenha precisado usar esse verbo? Por um simples motivo: você o conjuga como um verbo regular de 1ª conjugação, da mesma forma que andar ou cantar. Essa é a generalização usada de forma positiva.
Nosso cérebro não é capaz de dar conta da complexidade do mundo e uma das estratégias que ele tem para aprender é a de generalizar em determinadas situações. O problema é que essas generalizações podem gerar em nós distorções cognitivas capazes de nos enganar e nos induzirem a erros até graves. Um bom exemplo disso é o preconceito que nada mais é que um julgamento que fazemos de todo um grupo social a partir da impressão que temos acerca de uma pequena amostra desse grupo? Outro exemplo é a superstição. Ela simplesmente consiste num comportamento concomitante a uma determinada situação, ao qual é atribuída uma relação de causa, que, na verdade, inexiste. Ou alguém acha que a cueca que usa, de fato, influencia no rendimento da seleção brasileira nos jogos da Copa?
Entretanto, o erro nessa história não está na generalização em si, mas na interpretação que fazemos dela. Elas nos ajudam, mas não podem ser encaradas como verdades absolutas. Se eu digo, por exemplo, que as mulheres gostam de gastar dinheiro com compras, imediatamente alguma voz se insurge com aquela frase pronta de que falei lá no início. O que as pessoas normalmente não sabem é que a generalização não é sinônimo de totalização. O fato de grande número de mulheres gostarem de ir ao shopping, não significa necessariamente que TODAS elas gostem. E a generalização pode ser útil para se tirarem algumas conclusões.
Portanto, antes de você soltar aquela frasezinha irritante, com o intuito de desqualificar um bom argumento, avalie antes se a generalização é adequada ou não. Mas, por favor, não seja injusto, denegrindo algo que já te ajudou tanto nessa vida.

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